Em 2018 tive meu primeiro contato com a franquia Xenoblade Chronicles através do Xenoblade Chronicles 2. Na época, joguei por várias horas e lembro de ter ficado encantado com seu mundo exuberante, os personagens carismáticos e a direção artística impressionante. Embora a história não tenha me fisgado completamente, reconheço que teve seus momentos marcantes e emocionantes.
Xenoblade Chronicles X é tecnicamente o antecessor de Xenoblade Chronicles 2, mas na prática funciona mais como um spin-off. Isso porque, embora compartilhe o nome da franquia, ele não traz continuidade nem mesmo ao primeiro Xenoblade Chronicles. Quando soube do anúncio da Definitive Edition de Xenoblade Chronicles X, sabia que não poderia postergar mais essa experiência. Xenoblade Chronicles X, de todos os títulos da franquia, sempre me despertou mais interesse pela sua temática que mistura exploração espacial, sobrevivência em um planeta desconhecido e conflitos intergalácticos.
A Nova Los Angeles

Xenoblade Chronicles X é um JRPG de ficção científica ambientado em um futuro não tão distante do nosso, em 2054. Nesse cenário, a Terra foi completamente destruída em meio a uma guerra entre civilizações alienígenas. Antes do fim, a humanidade já havia alcançado um nível de desenvolvimento suficiente para lançar naves-colônia ao espaço, com o objetivo de preservar a espécie. No contexto de Xenoblade X, alguns desses sobreviventes são americanos, e sua nave, chamada White Whale, acaba caindo em um planeta desconhecido, chamado Mira.
Em Mira, é fundada a Nova Los Angeles (New LA), uma cidade que, como o nome sugere, é inspirada em Los Angeles, mas com todas as características de uma metrópole futurística, afinal estamos em um ponto avançado da história da humanidade. No meio desse cenário, você é… você mesmo. Não há um herói predefinido, nem a clássica jornada do herói que estamos acostumados a ver em muitos jogos do gênero. Em Xenoblade Chronicles X, você pode se tornar o protagonista do seu próprio caminho, tomando decisões que refletem sua personalidade e escolha de valores. Antes de dar seus primeiros passos nesse mundo, você é levado para a famosa tela de personalização de personagem, onde poderá ajustar o visual e os detalhes do seu personagem de acordo com o seu gosto.
Depois de montar seu personagem, seja bem-vindo a New LA, uma cidade pacífica — desde que você evite sair imediatamente para desbravar Mira, já que muitas criaturas podem ser fatais logo no início. Você ainda não sabe muito sobre si mesmo, mas ao longo da história, mais detalhes serão revelados. O que se sabe nas suas primeiras horas de jogo é que você é um recruta da BLADE, uma organização responsável por proteger a colônia e os seus interesses. No entanto, você não está sozinho nessa jornada. Uma das primeiras aliadas a cruzar seu caminho é Elma, uma mulher incrível que não apenas lhe ensina o básico do jogo, mas também se junta à sua party inicial. Aos poucos, outros personagens serão apresentados, e alguns deles poderão se juntar ao seu grupo.
Os muitos objetivos

Em Xenoblade Chronicles X, as missões estão por toda parte — e há uma grande variedade delas, cada uma oferecendo recompensas específicas que podem ou não ser relevantes para o seu estilo de jogo. Apesar da quantidade generosa de missões disponíveis, o jogo não te força a abraçar tudo, muito pelo contrário, ele deixa até certo ponto você escolher quais missões fazem mais sentido. Ainda assim, vale lembrar que a sua progressão maior está ligada as missões principais.
São muitos tipos de missões em Xenoblade Chronicles X: principais, secundárias, de facção, de reputação, da BLADE e até conquistas. É missão que não acaba mais. Mas nem todas são igualmente interessantes — e entender isso logo no início pode te poupar boas horas com tarefas que talvez não valham tanto o tempo investido, especialmente se não estiverem alinhadas com o que você busca na sua experiência de jogo.
No meu caso, optei por priorizar as missões principais, mas intercalando com outras. A cada 3 a 5 missões secundárias, encaixava 1 ou 2 principais para manter o ritmo da história. Quando estava mais de boa, me dedicava às missões de afinidade, principalmente por causa do carinho que desenvolvi por alguns personagens. Já as missões de conquista são bem desafiadoras, ideais para quem curte testar os limites, essas por enquanto estou devendo.
A maioria das missões principais que joguei me divertiram, mesmo com o loop de gameplay aparente depois de algumas boas horas. A história de Xenoblade Chronicles X é envolvente e vale a pena ser acompanhada, especialmente pelo aprofundamento que oferece sobre alguns dos personagens principais. Outro detalhe interessante é que o próprio mundo de Mira é tão cativante quanto a trama — descobrir seus segredos, assim como os mistérios envolvendo a humanidade nesse novo capítulo de existência, é no mínimo revelador e torna a experiência ainda mais recompensadora.
Escolhendo seu caminho

Como BLADE você deve escolhe uma entre várias divisões, cada uma com um papel específico no funcionamento e proteção de New LA. Os Pathfinders são responsáveis pela exploração e mapeamento de Mira, instalando sondas (Data Probes) pelo planeta. Os Interceptors lidam com a defesa de New LA, enfrentando o que ameaçar a paz. Já os Harriers focam em missões ofensivas, enfrentando inimigos mais difíceis de derrubar. Os Mediators atuam como mediadores de conflitos entre cidadãos e garantem a ordem na cidade. Os Curators exploram a fauna e flora de Mira para coletar dados biológicos. Os Prospectors se dedicam à mineração e coleta de recursos naturais, enquanto os Outfitters desenvolvem e mantêm equipamentos, especialmente os dos Skells. Por fim, os Reclaimers têm a missão de recuperar tecnologia e materiais de áreas perigosas ou de destroços espalhados pelo planeta.
Realmente, as possibilidades são muitas, e não demora muito para o jogo te colocar diante da necessidade de escolher um caminho a seguir. Optei pelos Harriers porque queria encarar desafios maiores e me envolver mais com combates intensos. Acabei nem testando as outras divisões, o que torna essa escolha inicial um pouco difícil — especialmente com tantas opções interessantes. Mas a boa notícia é que essa decisão não é definitiva: você pode mudar de divisão ao longo do jogo, conforme seu estilo de jogo for mudando ou você quiser experimentar algo novo. Além disso, mesmo sendo um Harrier, nada impede que você realize atividades típicas de outras divisões, como as tarefas de coleta e catalogação dos Curators, por exemplo. Essa flexibilidade é uma das coisas legais de ser um BLADE.
Sabe aqueles jogos que te assustam logo de cara? Xenoblade Chronicles X definitivamente foi um desses para mim. A quantidade de possibilidades e sistemas apresentados logo no início me deixou apreensivo — é realmente muita coisa para absorver. O jogo até faz um bom trabalho explicando tudo por meio de tutoriais detalhados, mas ainda assim leva algumas dezenas de horas até você se sentir verdadeiramente confortável com a enxurrada de conceitos, termos e mecânicas. É um daqueles títulos em que a curva de aprendizado é longa, mas recompensadora.
Em combate

Em Xenoblade Chronicles X, seu personagem é, acima de tudo, um combatente — e, como tal, passará boa parte do tempo envolvido em batalhas. Os combates acontecem em tempo real, mas incorporam elementos típicos de RPGs por turno, como tempos de recarga (cooldowns) e os Tension Points (TP), que limitam o uso de ataques mais poderosos. Os ataques especiais são chamados de arts, e durante o combate você terá à disposição aqueles que tiver pré-selecionado. A chave está em saber quando usar cada art, levando em conta o contexto da luta, o tempo de recarga e o custo em TP. Alguns golpes têm cooldowns longos ou consomem muitos TP, mas em compensação, costumam causar mais dano ou oferecer efeitos vantajosos. Por isso, estar atento ao ritmo do combate e usar suas habilidades de forma estratégica é essencial para tirar o máximo proveito de cada confronto.
Durante os combates, seus companheiros ocasionalmente emitem comandos chamados soul voices, que sinalizam oportunidades para usar arts específicas — como ofensivas, defensivas ou de suporte — geralmente indicadas por cores correspondentes. Seguir corretamente os momentos certos, como usar uma art verde em resposta a um soul voice verde, ativa efeitos bônus como cura, buffs temporários, aumento de dano ou recuperação de TP. Esse sistema não só adiciona dinamismo ao combate, como também incentiva a sinergia entre os membros da equipe. Cada personagem possui seus próprios tipos de soul voices, mas apenas o seu pode ser personalizado — os demais têm seus padrões fixos e bloqueados.
Embora os combates possam parecer estranhos no começo, à medida que você enfrenta mais inimigos, vai se adaptando às suas mecânicas e se familiarizando com o ritmo e a lógica das batalhas. O sistema brilha especialmente quando você começa a compreender as limitações de tempo, os custos de poder e a importância de usar cada habilidade no momento certo — transformando cada batalha em um desafio estratégico e recompensador. Há um sentimento de satisfação em entender os padrões e pontos fracos dos inimigos, testar quais arts funcionam melhor em cada situação e encontrar maneiras estratégicas de contornar os desafios que cada um deles impõe. Sem perceber, você acaba preso em um ciclo viciante de decisões rápidas que estimulam você a continuar
Outro fator que torna os combates de Xenoblade Chronicles X tão envolventes é o variado arsenal de armas. Seu personagem sempre carrega dois tipos: uma de curto alcance (espadas, facas ou escudos) e outra de longo alcance (rifles, metralhadoras ou lança-foguetes), podendo alternar entre elas a qualquer momento durante as batalhas. Essa dinâmica traz fluidez ao combate e também permite que você adapte sua ofensiva de acordo com o tipo de inimigo enfrentado. Em algumas situações, manter a distância será mais eficaz, enquanto em outras, o confronto direto fará mais sentido. Isso também acaba abrindo espaço para que você faça seu estilo de jogo, priorizando o que combina mais com você.
A abundancia de possibilidades

Xenoblade Chronicles X conta com um sistema de classes e skills que amplia bastante as possibilidades de combate. As classes determinam os tipos de armas e arts que você pode usar, e vão evoluindo conforme você joga, desbloqueando novas possibilidades. Já as skills são habilidades passivas que fortalecem seu personagem com bônus variados, como aumento de dano ou resistência. Juntos, esses sistemas permitem que você molde o estilo de jogo do seu personagem de maneira flexível. É fácil se sentir perdido com tantas possibilidades em Xenoblade X — o jogo oferece uma variedade considerável de skills e classes, cada uma com características únicas que podem te prender por um bom tempo só analisando o que combina mais com seu estilo. O que funcionou para mim foi começar pelo básico, entender bem o funcionamento das arts e ir aos poucos substituindo por outras semelhantes, até encontrar as que faziam mais sentido para o meu jeito de jogar. Com as classes, segui uma lógica parecida: escolhia aquelas que tinham arts que já tinha dominado, o que tornou o processo de evolução bem mais natural e fluido.
Como todo bom JRPG, Xenoblade Chronicles X oferece uma variedade imensa de equipamentos, opções de personalização e possibilidades de build. Comentar detalhadamente sobre todos esses aspectos tornaria essa análise bem extensa, então me limito a dizer que, nesse quesito, o jogo entrega muito. Independentemente do seu estilo de jogo — seja mais ofensivo, defensivo, estratégico ou focado em suporte — você certamente encontrará opções que se encaixam perfeitamente no que procura.
Os skells são, sem dúvida, um dos grandes destaques do jogo. Esses mechas transformam a experiência, oferecendo uma jogabilidade bem diferente e cheia de possibilidades. Com eles, é possível enfrentar inimigos que antes pareciam impossíveis devido ao tamanho ou força, além de tornar a exploração de Mira muito mais dinâmica — e, eventualmente, ainda mais prazerosa quando o voo é desbloqueado. Eles também adicionam uma nova camada estratégica aos combates, permitindo abordagens mais ousadas, combinações de armas variadas e movimentação diferenciada. Como tudo, os skells tem custos, exigindo manutenção, então prepare o bolso.
Explorar é viver

Quando se trata de recompensa, para mim, a exploração é a maior delas. Esse jogo tem um mundo aberto amplo, que vale cada centímetro ser explorado — nem sempre, ao meu ver, pelas recompensas (que até existem em boa quantidade), mas pela sua criatividade. Observar todo esse mundo é muito prazeroso, tanto que me perdi em sessões de jogatina apenas andando e conhecendo as coisas. Outro fator legal é a verticalidade: você pode explorar de baixo para cima e, geralmente, vai haver algo para ver. Algo que ficava vindo na minha cabeça era como o Nintendo Switch, com o hardware que tem, conseguia lidar com as exigências técnicas desse mundo. Quando pesquisei um pouco mais sobre o processo de desenvolvimento e desenvolvedores de Xenoblade X, descobri que eles ajudaram os envolvidos no desenvolvimento do Zelda: Breath of the Wild, o que explica o feito incrível deles nesse jogo.
Os gráficos de Xenoblade Chronicles X impressionam bastante, especialmente considerando as limitações do hardware original, o Wii U — e atualmente do Switch, ambos consoles com restrições gráficas notáveis. O mundo do jogo é cheio de personalidade, com paisagens impressionantes, formações rochosas gigantescas, vegetação variada e criaturas literalmente de outro mundo, tudo perfeitamente integrado à temática sci-fi. Além disso, os efeitos de mudança de horário e clima adicionam um dinamismo visual que transforma a forma como cada região é percebida ao longo do tempo, reforçando ainda mais a imersão.
A trilha sonora de Xenoblade Chronicles X é, sem exagero, um espetáculo à parte. Apesar da estranheza no começo, ela se encaixa bem com a proposta do jogo, proporcionando uma marcante sensação de aventura e imersão. As composições são do Hiroyuki Sawano, compositor conhecido por seu trabalho em Attack on Titan — que, aliás, também possui uma trilha sonora excepcional. O que torna a trilha de X tão única é sua ousadia: uma fusão improvável e intensa de rock, eletrônico, rap e vocais dramáticos, que pode até soar fora de lugar no início, mas logo revela seu valor dentro do contexto do jogo. É uma trilha sonora que foge do convencional e aposta no emocional e no grandioso — exatamente como o próprio jogo faz. Ao fim, ela não apenas complementa a ambientação de Mira, como se torna uma das principais responsáveis por dar vida à experiência épica que o jogo entrega.
A trilha sonora de Xenoblade Chronicles X é, sem exagero, um espetáculo à parte, e consegue encaixa perfeitamente na temática, propondo uma sensação de aventura muito boa. Não sei se é porque, particularmente, adoro músicas de anime, mas Hiroyuki Sawano, compositor conhecido pelo seu trabalho em Attack on Titan (que, diga-se de passagem, tem uma trilha sonora incrível), sabe o que tá fazendo. Há muita ousadia nas composições, a trilha mistura rock, eletrônico, rap e vocais dramáticos de um jeito único, criando uma identidade sonora marcante e cheia de personalidade — bom demais.

Xenoblade Chronicles X é um jogo cheio de bons momentos, que surgem em várias situações, seja na exploração, no avanço da história, nos confrontos contra criaturas ou simplesmente ao melhorar seu personagem. A exploração, para mim, foi o grande destaque, oferecendo uma boa sensação de liberdade. A jogabilidade, especialmente com os skells, adicionou uma camada interessante de estratégia e diversão — controlar um skell pela primeira vez é uma experiência incrível. Embora seja um jogo denso, que exige dedicação para entender suas mecânicas, ele definitivamente vale cada momento investido. Xenoblade Chronicles X é aquele tipo de jogo que, quanto mais você joga e se dedica a ele, mais recompensador fica. Eu não tinha ideia de o quão incrível esse jogo era, e a sensação de finalmente me redimir ao jogá-lo é muito boa.
A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Nintendo, distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.