Dia desses eu observei minha parceira jogando um jogo que eu havia desenvolvido alguns anos atrás… Foi uma experiência nostálgica e ao mesmo tempo estranha. Apesar do tempo, não senti que faltava algo naquele jogo, o que eu queria fazer, fiz. Quando pensei naquela história, ela era apenas um rascunho de um livro que eu estava escrevendo na época, depois de ver um possível potencial em uma experiência do tipo visual novel, houve uma mudança de planos repentina e comecei a desenvolver o tal do jogo.
Através do estilo adotado consegui contar a história daquele personagem de nome Jim. O jogo, intitulado Super Jimension, foi a minha maior empreitada no desenvolvimento de jogos. Foi a minha primeira vez atuando em muitas áreas ao mesmo tempo por assim dizer. Pela primeira vez eu estava roteirizando, desenhando, editando áudio, programando alguns comportamentos, e de fato emergindo profundamente dentro do desenvolvimento de algo jogável.
Levei muito tempo para concluir esse jogo, bem além do esperado mesmo… O jogo deveria ter sido concluído em um pouco mais de um mês, e pelos meus cálculos levou seis meses para ficar pronto. Obviamente o tempo foi dividido com outros afazeres, mas posso garantir que assumir esse desenvolvimento sozinho foi custoso. Escrever uma história do tipo visual novel é árduo, ainda que seu resultado final pareça simples e até descompromissado para a maioria das pessoas. Há armadilhas na concepção das ideias quando necessário levá-las para dentro de uma visual novel. Não sou o mais experiente com visual novels, apenas vi no gênero um jeito para contar a história do personagem que mencionei acima. Meu primeiro desafio na construção da narrativa foi pensar nas suas bifurcações, tanto que hoje eu vejo o quanto fui conservador demais com o desenvolvimento delas. Mas entre trancos e barrancos, consegui construir uma narrativa consistente sobre a história de amadurecimento de um cara que tem dificuldade em entender quem ele é.
Apesar de todas as outras áreas do desenvolvimento terem tido seus desafios, escrever a história foi disparado o maior deles. No começo era muito gostoso escrever, mas conforme as coisas avançavam, se tornava desafiador conduzir os próximos caminhos do protagonista. Ficava longos períodos anotando desfechos para uma situação aleatória que a minha cabeça criava para poder contextualizar o personagem no espaço e tempo… era muito cansativo, já que eu não fazia ideia de como avançar em termos de narrativa coesa. Eu geralmente escrevia alguns capítulos, e começava a modelar eles para o jeitão visual novel, e assim seguia o desenvolvimento, mas alguns momentos eu realmente não avançava mais com a história, e isso atrasava tudo. Fiquei alguns períodos sem desenvolver simplesmente por não ter ideias de caminhos que o personagem poderia seguir.
Queria fazer um jogo descompromissado desde o início, Super Jimension foi um projeto pessoal para que eu pudesse expandir habilidades de escrita e arte. A parte de programação nem chegou a ser aflorada, utilizei na época uma ferramenta construtura de visual novel chamada TyranoBuilder, muito boa por sinal, fica a recomendação.
Ver alguém jogando algo criado por mim foi muito gratificante, me fez refletir sobre empreitadas. Ao decorrer da minha jornada de vida, me envolvi em muitas delas, podendo considerá-las um combustível inestimável para mim. Gosto de criar coisas, e uma delas foi Super Jimension. Foi prazeroso criar esse jogo, não chegou a ser recompensador, afinal não atingi meu objetivo pessoal com ele, mas sua concepção trouxe grandes frutos para o meu intelectual. Eu realmente acho Super Jimension um jogo legal, e sou de fato suspeito para dizer: recomendo.
“Mas e o futuro?” Ninguém sabe sobre ele. Do presente, passei a valorizar como nunca o tal desenvolvedor entusiasta. Criar jogo é difícil, seja ele qual for, tu vai se deparar com uns desafios muito nebulosos. É bem água mole em pedra dura mesmo… tanto bate até que fura.
Comentários
2 respostas para “Relato de quem fez uma visual novel”
Acredito que por mais que façamos previsões de tudo antes de fazer algo, quando se envolve história (tanto a nossa história quanto a história criada para o jogo) as variações só são realmente observadas na vivência, no presente. Acredito que tenha sido uma baita experiência profissional e de vida. Sempre fiz planos e mais planos sobre fazer um jogo e, por mais que trabalhe com programação a quase uma década e acompanhe histórias incríveis de jogos diariamente, sempre fico no “e se”. As vezes um relato reflexivo sobre o que alguém fez, como você escreveu, serve para refletirmos o que deixamos de fazer em paralelo.
Ah o mais importante, como faço pra jogar Super Jimension? XD
Sim mano, é bastante complicado prever até onde a gente consegue chegar com uma empreitada dessas. Foi uma experiência legal sabe… serviu para expandir minhas habilidades “artísticas” por assim dizer. E além disso, me fez entender um pouco dessa perspectiva de criar um produto do tipo jogável.
Tá na mão o jogo: https://jandeilson.itch.io/superjimension (é grátis :D)