Apesar de saber do sucesso de Darkest Dungeon, acabei não jogando o primeiro título, porém com Darkest Dungeon II me senti na obrigação de jogar um Darkest Dungeon. Darkest Dungeon II é um jogo sombrio e impiedoso de combates em turno cuja progressão é baseada no gênero roguelike.
O que se sabe sobre o mundo sombrio de Darkest Dungeon II é que o mesmo é tomado pela escuridão de um jeito tão profundo que a luz é luxo. Heróis são convocados para uma aventura imersa em trevas com o propósito de evitar o eminente apocalipse. Criaturas maléficas estão por toda parte, e lutar contra elas é a única maneira de você conseguir avançar, porém cada combate pode ser o seu último, já que dependendo da quantidade de baixas, pode não ser mais interessante continuar a expedição, forçando ou levando você a começar uma nova.
Logo de início o jogo introduz os combates, deixando bem claro para você que é centrado na luta pela sobrevivência. Você, no papel dos heróis, está de um lado, enquanto os inimigos estão do outro, então através do posicionamento de cada personagem começa as investidas. Por se tratar de um jogo onde os combates são baseados em turnos, espere pela sua vez de jogar.
Não há tantas barreiras para aprender como funciona os combates de Darkest Dungeon II, inclusive nas primeiras horas de jogatina, qualquer nova descoberta tem sua explicação evidenciada na seção de tutoria, todavia não basta aprender a jogar, precisa aprender a sobreviver, já que os combates tem uma profundidade muito além do seu funcionamento básico. A observação constante é praticamente obrigatória para se extrair bons resultados. Darkest Dungeon II é perverso, e não costuma tolerar falhas, sobrevivência é algo levado a sério nesse jogo, se você não levar em consideração a eminencia da morte a todo instante, você vai morrer, simples assim.
A dinâmica de combate é basicamente assim: quando chega a vez de um dos seus heróis, suas habilidades e outras possibilidades ficam disponíveis para serem utilizadas contra o inimigo. Cada herói pode utilizar uma das suas 5 habilidades especiais uma vez por turno, mas sua efetividade depende do seu entendimento sobre o cenário de combate em andamento, já que cada habilidades tem características bem diversas. Além das habilidades especiais, no seu turno um herói pode utilizar um item, se mover ou passar. Como comentado, é tranquilo de jogar, mas é aí que entra as inteligentes sacadas do combate, e acredite, mesmo depois de muitas partidas, você ainda vai ter alguma dificuldade em entendê-las.
As habilidades especiais dos heróis ditam uma boa fatia do desenrolar de um combate, e isso se dar pelas características diversas que cada habilidade tem a oferecer. Um herói especializado em saúde, por exemplo, tende a ser menos agressivo, mas em compensação pode ter uma habilidade que despeje uma maldição no inimigo que ao desenrolar dos turnos pode levá-lo a morte; um burucutu centrado em ataques de força bruta, dependendo da habilidade, pode acabar servido de barricada… existe uma variedade incrível de possibilidades e combinações que os heróis conseguem fazer através das suas habilidades, entender qual investida faz mais sentido é um desafio tremendo. Além de tudo isso, cada habilidade também tem seu próprio alcance, influenciado pela posição do herói e inimigo. Imagine que você quer usar uma habilidade qualquer à distância que alcance os dois últimos inimigos em formação, porém essa habilidade só pode ser utilizada se você estiver pelo menos na terceira posição entre os quatro heróis, caso contrário ficará incapacitado de utilizar tal habilidade.
Os combates são influenciados por condições maleáveis como o humor, afinidade e bugigangas equipadas, e também não maleáveis como as características próprias de cada herói, um aspecto que você altera somente na seleção de heróis. O humor funciona através de um medidor de estresse presente em cada personagem, se esse medidor chegar ao limite, o personagem entra em parafuso e isso pode prejudicar significativamente o seu combate. A afinidade é determinada pelas interações e outros comportamentos que envolvem o grupo, então esteja ciente que da mesma forma que uma amizade pode te ajudar, uma inimizade pode te prejudicar. As bugigangas nada mais são que acessórios equipáveis, há uma boa quantidade deles, e cada um tem seu propósito.
Ao mesmo tempo que a profundidade do jogo proporciona uma experiência quase sempre acertada, nem sempre a gente quer estar tão envolvido assim com cada pequeno detalhe em andamento, e confesso que houve momentos que fiquei um pouco cansado, talvez pela densidade de algumas estratégias de combate em alguns momentos mais complicados do jogo… a verdade é que longas sessões de jogatina requerem uma dedicação as vezes além da conta. Pelo menos com o tempo essa sensação é diminuída por conta do seu crescente aprendizado, algo interessante sobre Darkest Dungeon II é que ele constantemente te apresentando problemas que fazem a sua cabeça começar a organizar as ideias de modo que possam ser utilizadas a seu favor.
Há quem diga que “equilíbrio é tudo”, e em Darkest Dungeon II essa frase faz muito sentido. Quando cito a profundidade do jogo, estou me referindo também a essa necessidade de equilíbrio do mesmo, se você simplesmente esquecer de alguma condição essencial que manter seus heróis estáveis, pagará um preço geralmente alto por isso. Tenha em mente que a cabeça dos seus heróis precisa estar sempre iluminada.
Nem só de combates se sustenta Darkest Dungeon II, você é incentivado a explorar as localizações do jogo em uma carruagem, e essa exploração é uma parte fundamental do desenrolar da sua aventura. Os próprios combates partem dos locais que você explora, assim como demais eventos que o jogo reserva. Durante a exploração você tem a liberdade de escolher por qual caminho seguir, porém cada caminho reserva acontecimentos diversos, geralmente seguindo uma linha lógica de quanto maior o esforço, melhor a recompensa.
A carruagem é praticamente o refúgio dos seus heróis de toda escuridão, se ela não estiver em boas condições, seus heróis pagarão negativamente por isso. Quanto mais você avança nas localizações, mais a sua carruagem é sujeita aos perigos desse mundo amaldiçoado, podendo colocar você em combates não desejados, além de outras condições negativas.
O gênero roguelike está presente na sua melhor forma em Darkest Dungeon II, morrer não é tão doloroso, na verdade, é até interessante quando você quer de fato avançar no jogo. Apesar de ser massacrado impiedosamente algumas vezes pelos inimigos do jogo, em nenhuma das tentativas fiquei frustrado com isso. A cada morte, novos coisas eram liberadas, e minhas próximas investidas ficavam cada vez mais expressivas.
Que jogo mais sombrio… é difícil não se contaminar pela cativante e profunda escuridão, é como se a luz nunca tivesse de fato existido. Os artistas desse jogo fizeram um trabalho primoroso, cada detalhe visual tem um capricho estratégico que faz você de fato sentir toda angústia desse mundo perverso. Para completar, a trilha sonora é tão sombria e envolvente quanto.
Darkest Dungeon II desafia você de um jeito perverso, mas não deixa de enfatizar que cada uma das suas investidas é como um grito de esperança. É sombrio? É, mas quem está segurando a tocha é você, logo ninguém mais é capaz de espalhar a luz em tamanha escuridão. Darkest Dungeon II é desafiador e instigante, você não quer se limitar apenas a jogar por jogar, quer dominar tudo que o jogo tem para oferecer. Quem disse que a escuridão não pode proporcionar grandes momentos de diversão?
A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Red Hook Studios, desenvolvedora e distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.