Assassin’s Creed Shadows é uma experiência épica e histórica pelo Japão feudal – Review

Assassin’s Creed Shadows combina furtividade e combate direto, com uma ambientação imersiva do Japão feudal, oferecendo uma experiência marcante.


Em 2023, escrevi uma análise do primeiro Assassin’s Creed que joguei, o Mirage, uma experiência divertida e muito prazerosa — repleta de bons momentos em Bagdá. Desde o anúncio de Shadows, só o fato de ele se passar no Japão já foi o suficiente para me deixar excessivamente empolgado. Amo cultura japonesa, e poder jogar um jogo que retrata o Japão e a sua era feudal com alguma fidelidade histórica é simplesmente incrível.

Assassin’s Creed Shadows se passa no Japão feudal, durante o período Azuchi-Momoyama (1579), fase final do conturbado período Sengoku, marcado por guerras civis e pelo processo de unificação do país. Os principais nomes dessa época foram Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi, líderes que abriram caminho para a era Edo. Em 1579, Nobunaga já havia consolidado boa parte do seu domínio, mas ainda enfrentava resistência de clãs como os Iga e Koga, conhecidos por seus ninjas de respeito. Dentro desse cenário, conhecemos Fujibayashi Naoe, uma kunoichi do clã Iga, e Yasuke, um samurai que luta ao lado de Nobunaga. Ambos vêm de realidades opostas, e seus destinos se entrelaçam conforme avançamos na história.

Apenas observando… – Screenshot: PS5/Joguindie

A Naoe e o Yasuke

O enredo de Assassin’s Creed Shadows te prende de uma forma única, e a cada momento você se vê mais envolvido com os acontecimentos. Naoe é uma personagem muito bem desenvolvida, com motivações sólidas, e quando você percebe, já está completamente envolvido com a sua jornada. Yasuke é igualmente bem construído, com camadas que vão sendo reveladas aos poucos, mas no momento certo. Os personagens secundários são bem escritos, mas, pelo menos para mim, nenhum teve um construção que me conquistou profundamente.

As primeiras horas do jogo são com Naoe, uma personagem, de certo modo, familiar para quem já jogou outros títulos da franquia. Ela é ágil, furtiva e letal, equipada com shurikens, kunai, bombas de fumaça e, claro, a icônica lâmina oculta. Suas armas principais são a katana, a kusarigama e o tantō. Já Yasuke é o oposto –— uma verdadeira muralha. Grande, forte e feito para o combate direto, ele usa uma katana longa, naginata, kanabō e arco, trazendo um estilo de jogo mais brutal.

“Perdido na mata” – Screenshot: PS5/Joguindie

Naoe traz a furtividade e a agilidade características dos assassinos, permitindo abordagens silenciosas e estratégicas, enquanto Yasuke representa a força bruta e o combate direto, enfrentando grupos inteiros de inimigos de peito aberto. Essa dualidade não só mantém o ritmo do jogo variado, mas também acaba te incentivando a experimentar diferentes estilos de jogabilidade. Alternar entre eles em momentos-chave faz com que cada missão possa ser encarada de uma maneira mais divertida e consequentemente apropriada, evitando que a experiência se torne monótona e proporcionando uma sensação constante de novidade. Depois de um tempo, os loops da jogabilidade começam a ficar mais evidentes, e por isso recomendo alternar entre os personagens para manter a experiência sempre renovada e interessante. Como gostei bastante de jogar com ambos e aproveitei ao máximo o sistema de troca de personagem, não me cansei dos vícios da jogabilidade. Vale ressaltar que cada personagem possui uma quantidade considerável de habilidades e ferramentas desbloqueáveis, permitindo explorar diferentes abordagens.

Como nos outros jogos da franquia, cada personagem tem suas próprias árvores de habilidades, que podem ser aprimoradas conforme você avança. A progressão em habilidades requer um pouco mais de dedicação, portanto você também terá que explorar as missões secundárias, pois é nelas que você adquire os pontos necessários para evoluir suas habilidades, e algumas ainda garantem recompensas bem boas. Além das habilidades, as ferramentas também podem ser aprimoradas ao longo do jogo. Conforme você avança, é possível melhorar itens da Naoe como shurikens, bombas de fumaça e kunai, assim como os do Yasuke, tornando-os mais eficazes e adaptáveis ao seu estilo de jogo. Essas melhorias podem aumentar o dano, o alcance ou até adicionar efeitos secundários, como veneno ou explosões, proporcionando mais opções estratégicas durante os confrontos.

Vingança – Screenshot: PS5/Joguindie

As missões ninja

A campanha de Assassin’s Creed Shadows segue uma receita de bolo à risca, o que pode ser um problema se você se incomodar com suas características repetitivas. Basicamente, uma cadeia de objetivos vai sendo construída, e você escolhe aqueles que mais te interessam. Quando se trata das missões principais, a estrutura geralmente segue um padrão: algo aconteceu em algum lugar, e você precisa investigar os acontecimentos ali. Isso envolve coletar pistas por meio de escoteiros, e, caso tenha posicionado o escoteiro corretamente, terá uma noção exata de onde está o seu objetivo.

O jogo conta com uma grande quantidade de missões, tanto principais quanto secundárias, e você tem a liberdade para fazer as que quiser. No entanto, é sempre bom equilibrar entre as duas para não prejudicar a progressão dos personagens, já que eles dependem tanto da experiência quanto das recompensas das missões secundárias. Eu, por exemplo, já foquei mais nas secundárias do que nas principais, já que queria deixar meus personagens com os melhores equipamentos e habilidades possíveis — e, de quebra, me aprofundar mais nas boas histórias que o jogo reserva.

Você não está sozinho, e ao longo do jogo, suas escolhas podem fortalecer laços e até mesmo atrair novos aliados. Seu ponto de partida, por assim dizer, é o esconderijo, onde você e seus aliados se reúnem para planejar os próximos passos. O esconderijo é o seu cantinho no jogo — um lugar que você pode construir, aprimorar e personalizar do seu jeito. Mas ele não serve apenas para estética: as construções principais oferecem melhorias que impactam diretamente na sua experiência. Ter uma forja, por exemplo, permite evoluir suas armas e até acoplar habilidades extras nelas. Confesso que não me apeguei muito à parte da personalização, mas investi um bom tempo coletando materiais para construir e aprimorar tudo o que fosse possível, já que isso tem um impacto direto na jogabilidade.

Esperando a poeira baixar. – Screenshot: PS5/Joguindie

Vivendo como um ninja

A jogabilidade em Assassin’s Creed Shadows se divide entre Naoe e Yasuke, cada um com um estilo bem distinto. Naoe é versátil, capaz de escalar quase tudo, atacar e se esquivar rapidamente, além de lidar com a maioria dos desafios nas sombras. O stealth, que sempre foi uma característica marcante da franquia, está ainda melhor aqui, e Naoe é a melhor opção se você gosta desse estilo de jogo. Quando você não quer simplesmente chegar com tudo, pode explorar suas habilidades furtivas para encontrar o momento certo de atacar sem ser visto. O jogo te dá muitas possibilidades de stealth, especialmente se você aprimorá-las: você pode eliminar inimigos através de paredes, agarrá-los e arrastá-los para locais estratégicos antes da finalização, se manter camuflado debaixo d’água e muito mais. O limite aqui é a sua criatividade.

Yasuke, por outro lado, é pura ação. Com ele, você pode simplesmente meter o pé na porta sem sem medo de ser feliz — ele vai tankar qualquer inimigo de frente. Diferente de Naoe, Yasuke não é tão eficiente na furtividade, embora consiga agir furtivamente em certas ocasiões. Ele também não tem a mesma mobilidade para escalar certos lugares, o que torna sua abordagem mais direta. Sua maior vantagem está na força bruta: Yasuke é realmente um tanque, perfeito para combates intensos e extensos. Em vez de esquivar-se, ele se destaca por bloqueios e contra-ataques precisos, sendo um personagem certeiro para quem prefere resolver as “coisas no braço”.

Ambos os personagens têm suas vantagens e desvantagens, e cabe a você decidir como quer jogar. O jogo permite trocar entre eles em vários momentos, o que mantém a experiência variada. Pessoalmente, gosto mais da Naoe pelo seu estilo ágil, mas joguei bastante com Yasuke e me diverti tanto quanto. O mais interessante é que você não é obrigado a equilibrar os dois — pode focar mais em um deles e seguir sua jornada do seu jeito. No entanto, algumas missões exigem certas habilidades específicas, então pode ser que a dificuldade varie dependendo da sua escolha.

Meu lodout com o Yasuke assim que comecei a jogar com ele. – Screenshot: PS5/Joguindie

O Japão

A exploração em Assassin’s Creed Shadows é uma das coisas mais legais desse jogo, e ao meu ver é devido ao seu mundo visualmente impressionante, e repleto de fidelidade histórica. Há muitas coisas para explorar e descobrir, mas depois de um tempo, elas acabam sendo mais do mesmo, porém o que torna a investida na exploração tentadora é justamente o belíssimo Japão pelos olhos dos desenvolvedores da Ubisoft. As vezes a recompensa nem vale todo o esforço ou até o famoso mais do mesmo, mas acredite, só o fato de caminhar por aí nesse jogo é algo prazeroso. Fazia muito tempo que não tirava tanta screenshot e gravava tantos vídeos de momentos da minha jogatina… Shadows tem um mundo até certo ponto vivo, não necessariamente interativo a todo momento, mas realmente vivo, que teve um cuidado em construção e dinamismo.

Poucos mundos de jogos me proporcionaram a sensação de contemplação que o de Assassin’s Creed Shadows. Passei horas e horas simplesmente caminhando, sem qualquer objetivo em mente, apenas para me conectar com toda a sua grandiosidade. Cada detalhe, desde as paisagens exuberantes até as pequenas aldeias, contribuiu na minha imersão. Preciso admitir que sou suspeito para falar, já que sou fascinado pelo Japão e sua cultura, e isso, sem dúvida, aumentou o impacto que o jogo teve sobre mim. Mas, ao mesmo tempo, isso não diminui o quão impressionante esse Japão realmente é. A riqueza de detalhes, a fidelidade arquitetônica e a atmosfera fazem com que o mundo do jogo pareça autêntico, cheio de histórias em cada canto.

Tirando um tempinho para “treinar uns jutsus”. – Screenshot: PS5/Joguindie

Em cada sessão de jogatina de Assassin’s Creed Shadows não senti pressa para avançar — muitas vezes queria apenas observar o pôr do sol sobre os campos, ouvir o barulho do vento entre as árvores, entrar em florestas densas, acompanhar a passagem das estações, e tantas outras coisas que de algum modo pudessem trazer um pouco desse Japão.

A trilha sonora de Assassin’s Creed Shadows consegue capturar a essência do Japão da época, misturando instrumentos tradicionais japoneses, com composições orquestrais que evocam tanto a grandiosidade das batalhas quanto a serenidade dos momentos de exploração. Quanto aos visuais, os mesmos são deslumbrantes. O jogo apresenta um Japão feudal detalhado, onde cada paisagem parece uma pintura em movimento. Praticamente todos os elementos em tela parecem terem sido cuidadosamente projetados para chamar sua atenção de alguma forma, seja pela grandiosidade ou pelos pequenos detalhes. A iluminação dinâmica e os efeitos climáticos, como chuvas torrenciais e névoas densas, adicionam ainda mais profundidade ao mundo, tornando cada região única e visualmente impactante.

Uma pintura chamada Assassin’s Creed Shadows. – Screenshot: PS5/Joguindie

Assassin’s Creed Shadows traz dois protagonistas cativantes, equilibrando de forma sólida a furtividade e o combate direto. Além disso, sua ambientação — um dos aspectos que mais me encantou — oferece uma experiência genuinamente imersiva. Apesar das repetições e da estrutura de missões previsível, a variedade nos estilos de jogo e a liberdade de exploração ajudam a contornar esses pontos. Se você curte a franquia ou tem interesse pelo Japão e seu contexto histórico, Assassin’s Creed Shadows é uma grande experiência.

A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Ubisoft, desenvolvedora e distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.


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