O fabuloso Assassin’s Creed Mirage – Review

Assassin’s Creed Mirage proporciona experiência fabulosa, rica culturalmente, repleta de parkour, investigações intrigantes e assassinatos criativos.

Tempo de leitura: 10 minutos


Assassin’s Creed é o tipo de franquia de vídeo game que até quem não é dos games conhece, e embora durante toda a sua trajetória muitos títulos tenham sido lançados ao decorrer dos anos, ainda sim acabei não conseguindo jogar qualquer um deles. Tem jogos que independente da popularidade, a gente não consegue jogar, como foi o caso dos jogos da franquia Assassin’s Creed para mim, mas isso nunca significou desinteresse, apenas a boa e velha frase: “tudo tem seu tempo”, tanto que Assassin’s Creed Mirage me encantou de um jeito que não poderia deixar de jogá-lo.

Quem é Basim

Em Assassin’s Creed Mirage você é Basim, um órfão desnorteado vivendo em Bagdá cujas dificuldades de vida o levaram a furtar para sobreviver. Inicialmente Basim é apresentado como mais um ladrão típico de Anbar, uma cidade que um dia foi residência dos califas abássidas antes da fundação de Bagdá, mas logo suas habilidades acrobáticas e furtivas demonstraram seu verdadeiro potencial, chamando a atenção de Roshan, mestra assassina influente da ordem dos Ocultos, grupo secreto defensor de um mundo mais justo, datado da Antiguidade e dos primeiros séculos da Era Comum. Basim então começa a sua aventura para se tornar um grande assassino da ordem dos Ocultos.

O destino entre as areias – Screenshot: PS5/Joguindie

Durante o século IX grandes movimentos da ordem dos Ocultos ocorreram na capital do Iraque, e boa parte foram obras de Basim, figura fortemente engajada com os problemas da sociedade. No papel de Basim você deverá explorar ao máximo suas diversas habilidades para restaurar os direitos humanitários dos menos favorecidos enfrentando os mais difíceis obstáculos, assim garantindo uma vida menos dolorida para todos.

Caso você tenha jogado os jogos anteriores da franquia, tenho alguns detalhes: Assassin’s Creed Mirage se passa no ano 861 da Era Comum, AC Valhalla, jogo antecessor, se passava em 872 da EC, enquanto AC Origins em 49 AEC, ou seja, 9 séculos antes de AC Mirage; Todos os jogos citados anteriormente fazem parte da Era dos Ocultos, a Era dos Assassinos começa por volta de 1090 da EC como visto no primeiro jogo da franquia; Se você jogou AC Valhalla, Basim é uma figura conhecida; A narrativa de AC Mirage, assim como a da maioria dos jogos da franquia, pode ser apreciada sem qualquer ligação com os demais títulos.

Bagdá

A estória de Assassin’s Creed Mirage é razoavelmente consistente, sua narrativa é apressada, deixando o desenvolvimento dos personagens um pouco de lado para contextualizar os problemas de Bagdá. Ainda que seja interessante adentrar de cabeça nos problemas da cidade, Basim e todo o elenco acabaram pouco explorados. Demorei um pouco para me conectar com Basim, imagine com os demais… ao meu ver, os contextos apresentados foram insuficientes para justificar verdadeiramente algumas de suas motivações.

Basim é o órfão que sofreu um bocado, mas como exatamente essa perda terrível afetou sua personalidade? Por que nunca pensou em desistir? Como cresceu essa vontade de ajudar aos outros? Como foram construídas suas maiores amizades? Algumas respostas para questionamentos mais íntimos acerca do personagem talvez pudessem tornar sua narrativa mais coesa com suas decisões passadas, presentes e futuras. Existem tentativas de justificar acontecimentos com o destino, mas não é uma justificativa plausível dado o contexto complexo em que o personagem foi construído.

Seguindo em frente – Screenshot: PS5/Joguindie

Embora os problemas apontados tenham dificultado a minha imersão profunda com a estória de Basim, não ofuscaram o brilho da mesma. Há uma riqueza cultural de peso histórico, a própria trajetória de Basim acaba provando seu valor, e os conflitos dos cidadães do califado são bem interessantes.

É notável nos mínimos detalhes a caprichada apresentação da estória, com direito a boas cutscenes e diálogos que mantém você interessado pelos acontecimentos. Quanto mais você avança na estória, melhor ela fica, é recompensador acompanhar a progressão de Basim na ordem dos Ocultos, os conflitos que permeiam Bagdá, o reflexo das boas ações em prol do povo, e demais acontecimentos que enriquecem essa boa estória. Além disso, tem as diversas informações que vão sendo registradas no códice, contribuindo positivamente no seu aprofundamento.

Investigue primeiro, assassine depois

A campanha de Assassin’s Creed Mirage tem estrutura baseada em investigações, e funciona geralmente da seguinte forma: um acontecimento decisivo para a estória deverá ser solucionado, mas para alcançar essa solução, antes você precisa concluir investigações derivativas, e as possibilidades são muitas, você pode vasculhar um local em busca de pistas, assassinar uma figura importante, resgatar alguém importante em uma fortaleza, entre tantas outras… quando completá-las, você terá todos os detalhes necessários para começar a solucionar o acontecimento decisivo.

Que comecem as investigações – Screenshot: PS5/Joguindie

De uma perspectiva geral, as investigações tem uma estrutura parecida, você vai até um determinado local e lá executa o que foi solicitado, cada investigação explora algum aspecto possível do jogo. As investigações equilibram bem suas mudanças de uma para a outra, tem investigação que você estará se infiltrando em um palácio para cometer um assassinato, outra recuperando algo importante, resgatando alguém de abusos, então há diversidade nas investigações, mas a estrutura delas pode transparecer o reaproveitamento de ideias depois de algum tempo.

Em Assassin’s Creed Mirage, além de um ascendente assassino, você é um verdadeiro acrobata. Basim é um personagem muito versátil, capaz de subir no ponto mais alto da construção mais alta, assassinar alguém, esconder o corpo da vítima e o seu próprio onde parecer mais atrativo, e tudo isso num piscar de olhos e com muita elegância. Você pode escalar praticamente qualquer construção de Bagdá, assusta o quão funcional é fazer isso. Desde o primeiro Assassin’s Creed, a Ubisoft vem aprimorando sua mecânica de parkour, tanto que poucos jogos acalçaram tamanha perfeição.

Ninguém precisa saber quando e como ocorreu

A furtividade está presente, e é uma mecânica bem interessante quando explorada. Diante os desafios do jogo, a decisão de escolha, seja de maneira furtiva ou exposta, depende apenas de você. Imagine que você precise invadir um palácio abarrotado de inimigos, mas cogitar confronto direto seria suicídio, portanto fazer o que tem que ser feito furtivamente demonstra maior efetividade. É tudo uma questão de escolhas, e essas escolhas são de fato deixadas para vocês.

Pronto para o abate – Screenshot: PS5/Joguindie

Quando você opta pela furtividade, precisa avaliar sua posição, a dos inimigos, e todos as características a serem exploradas do local em que se encontra. Há arbustos, objetos, paredes, pessoas, altitudes, e vários outras coisas para você utilizar sempre que precisar sair da visão dos inimigos.

A inteligência artificial dos inimigos é capaz de encontrá-lo dependendo das rastros deixados, mas não é das mais inteligentes, você consegue driblar ela facilmente sem precisar elaborar soluções engenhosas. Deixei várias vezes os corpos daqueles que assassinei no local do crime, seus companheiros olharam e até ficaram encucados durante um tempinho, mas logo seguiram a vida como se nada tivesse acontecido. Se tem alguém assassinando seus companheiros, você no mínimo deveria ficar em completo estado de alerta, e não esquecer do ocorrido. Depois que acaba o breve estado de alerta dos inimigos, você pode voltar a cometer os assassinatos como se nada tivesse acontecido. Entendo optarem por essas decisões em prol do dinamismo, mas acredito que um pouco mais de desafio cairia bem.

Agir furtivamente é divertido, arquitetar um plano meia boca que seja, mas funcional, proporciona bons momentos de imersão. Mesmo gostando mais de bater de frente com os inimigos, preferi resolver a maioria dos problemas furtivamente. Gostei demais da parte funcional da coisa toda, realmente é possível resolver quase todos os desafios da maneira que achar melhor. Teve investigação de assassinar figurão que só precisei esperar por uma brecha para assassiná-lo, rápido e indolor.

Assassinando

Se você precisar de uma “mãozinha” para assassinar os inimigos, basta tirar proveito das ferramentas. São 6 ferramentas ao todo, e cada uma delas é bem distinta, abrindo um leque de possibilidades. A minha ferramenta favorita é o dardo, uma ferramenta simples, mas capaz de colocar os inimigos para dormir instantaneamente, deixando eles totalmente vulneráveis para serem abatidos. Além das ferramentas, você também pode contar com a ajuda do Foco Assassino para assassinar em série. O Foco Assassino é uma maneira rápida e automatizada de apagar X inimigos de uma vez só, mas essa aptidão tem um custo, pago de acordo com a quantidade de eliminações furtivas realizadas.

Entrou no Foco Assasino, acabou. – Screenshot: PS5/Joguindie

Os combates corpo a corpo do jogo são simples, você defende bloqueando o ataque do inimigo com a sua adaga ou tirando o corpo fora, e ataca com a sua espada. A estratégia da coisa está muito atrelada ao seu reflexo, os inimigos podem atacá-lo de maneiras diferentes, alguns ataques podem ser bloqueados, enquanto outros só podem ser desviados, captar o timing para bloquear e desviar garante a sua permanência de pé.

Inimigos mais ágeis requerem mais sagacidade da sua parte, entenda bem seus pontos fracos para contra atacá-los. Enfrentar os inimigos de frente requer mais desenvoltura do que parece, não adianta cair matando porque independente dos seus reflexos, ainda precisará observar a barra de estamina, ela será consumida a cada ação realizada.

Os três ramos de habilidades – Screenshot: PS5/Joguindie

Basim dispõe de muitas habilidades, mas inicialmente bloqueadas, conforme você avança no jogo, pontos de habilidade são conquistados e poderão ser trocados por habilidades desejadas. Existe um tipo de árvore de habilidades inspirada nos jogos do gênero de RPG. Essa árvore de habilidades é organizado em três ramos: Fantasma, Trapaceiro e Predador. O ramo Fantasma melhora a destreza, Trapaceiro a engenhosidade, e Predador a capacidade estratégica de Basim. Melhorar o ramo Fantasma torna Basim mais determinado ao ato de assassinar, o Trapaceiro deixa as coisas um pouco mais fáceis, e o Predador aumenta sua percepção das coisas.

Os equipamentos e ferramentas de Basim podem e devem ser melhorados. As melhorias de equipamentos costumam garantir além de atributos melhores para armamentos, habilidades extras para trajes, o descolado traje de Milad, por exemplo, faz com que assassinatos aéreos bem-sucedidos disparem um clarão ao redor do inimigo derrubado, desorientando qualquer testemunha próxima. Melhorias de ferramentas estende as possibilidades da ferramenta escolhida em diversos aspectos, podendo torná-la extremamente ofensiva.

Miragem ou em francês, Mirage

Bagdá, a magnífica capital – Screenshot: PS5/Joguindie

Explorando ou simplesmente contemplando Bagdá, você será recompensado. Há muitas coisas para saquear no jogo, e a grande maioria tem seu valor prático. Você ainda pode explorar toda a cidade de cima através dos olhos de Enkidu, sua água de estimação. Assim como a Visão de Águia de Basim, Enkidu identifica inimigos e localiza objetos, mas com maior precisão. Enquanto explora a pé, pode aproveitar para garantir uns trocados e outras coisinhas legais furtando aqueles mais desatentos com seus pertences. A cidade é reativa as suas ações, portanto atitudes ruins vão subir seu nível de notoriedade, e quanto maior, pior será a reação das autoridades contra você.

Tive acesso antecipado ao jogo no PS5, apesar de ter presenciado algumas quedas de quadro com muitos inimigos em tela, alguns pequenos bugs, o desempenho geral do jogo foi satisfatório. Preferi jogar em modo gráfico para extrair melhor desempenho, embora tenha ficado tentado várias vezes a jogar no modo qualidade só para contemplar toda a beleza do jogo.

Se você estava esperando um Assassin’s Creed que explorasse todo o potencial dos consoles de nova geração, infelizmente não foi desta vez, o jogo não faz feio visualmente, mas também não explora os melhores aspectos dessa geração de consoles.

O palco da aventura – Screenshot: PS5/Joguindie

Independente de como você queira aproveitar sua experiência em Assassin’s Creed Mirage, será prazeroso. É fabuloso explorar Bagdá, instigante solucionar casos investigativos, apostar no potencial da furtividade, tentar encerrar sua sessão de jogatina, mas acabar jogando mais… aspectos como esses, e entre outros, somados fazem de AC Mirage um grande jogo.

A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Ubisoft, desenvolvedora e distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.


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