Quando Street Fighter V saiu, lá em 2016, tive a oportunidade de jogá-lo, inclusive escrevi uma análise. Na época, embora tivesse jogado outros jogos da série, era a primeira vez que estava aprendendo a jogar de fato um Street Fighter, mas depois de um tempo, acabei abandonando o jogo. Desde a primeira imagem que vi de Street Fighter 6, fiquei acompanhando o jogo de longe, observando uma coisinha ou outra que saia, criando uma expectativa sobre esse jogo, que nem eu fazia ideia que tinha, quando finalmente coloquei as mãos nele.
Logo de cara é perceptível o esmero envolto de Street Fighter 6, o jogo tem tudo que se espera de um Street Fighter, conseguindo ir além. Depois da tela de “Press any button”, você é apresentado para três modos de jogo: World Tour, Battle Hub e Fighting Ground. Cada um desses modos propõe um jeito diferente de se jogar SF6.
Sua jornada pelo World Tour
O modo World Tour é onde você, caro lutador, escreve a sua história. Seu diferencial está no conceito de “mundo aberto” um tanto inusitado, assim como você, todo mundo sabe e pode entrar na porradaria, seja o policial mal encarado, ou o cara do carrinho de cachorro quente, você é livre para escolher quando e com quem entrar em uma briga no World Tour, exceto em algumas exceções, quando por exemplo, alguns personagens briguentos chegam na voadora do nada, aí meu amigo, é punho neles.
Antes de começar a sua aventura no World Tour, você precisa criar o seu personagem, afinal agora você é de fato o protagonista dessa história. A ferramenta de criação de personagem do jogo é recheada de possibilidades acessíveis, portanto você consegue mudar diversos aspectos do seu personagem sem precisar de todo um estudo para isso, basta sair ajustando cada pedaço do personagem geralmente movendo o medidor para menos ou para mais, de acordo com o resultado esperado.
No World Tour você é o típico lutador ascendente, e como tal, deverá lutar para provar seu valor. A cada luta você ganha mais experiência, e consequentemente avança mais com suas habilidades. O World Tour tem a maioria das características de um bom RPG, porém com porradaria de plano de fundo. É muito divertido jogar o World Tour, o modo é repleto de coisas para fazer o tempo inteiro, você pode explorar as localizações para liberar novas missões, esbarrar com personagens diversificados para conversar ou lutar, encontrar baús com itens legais, e o melhor, comprar briga com todo mundo de um jeito saudável.
Conforme você avança na história do jogo, novos treinadores vão surgindo para treinar você, como a Chun-Li, o Ryu, e demais figuras memoráveis da série, isso possibilita que seu personagem herde o estilo de luta de algum desses personagens conhecidos, e é bem interessante e cômico.
Socializando no Battle Hub
No modo Battle Hub, você utiliza seu personagem criado no World Tour para poder explorar um salão com outros jogadores repleto de máquinas de fliperama que se comportam literalmente como tal. Sente-se de frente para uma máquina, espere por outro jogador, e a porradaria tá garantida, simples assim. O Battle Hub é como uma pracinha de bairro, uma galera se reúne ali para conversar ou fazer atividades.
Não faltam atividades, especialmente de luta para fazer no Battle Hub. Você pode participar de brincadeiras com outras pessoas, comprar coisas, e inclusive lutar à moda antiga através de jogos clássicos da série Street Fighter. Dentre as atividades, gosto um bocado de procurar por máquinas de fliperama em que dois jogadores estejam lutando só para assistir a partida deles, isso traz memórias boas de quando eu era criança e gostava de ver o pessoal no fliperama jogando Street Fighter.
Algo que o modo Battle Hub evidencia bem é o quão Street Fighter 6 foi pensado para o eSports, e isso é principalmente notável através do Capcom Fighters Network. Apesar do CFN existir no SFV, é no SF6 que ele de fato parece algo especial. Boa parte do que você precisa para gerenciar sua trajetória no mundo competitivo de Street Fighter 6 está no CFN. A maior novidade do CFN é sem sombra de dúvidas a opção de clubes. É possível criar e entrar para clubes, então agora você e seus amigos poderão colocar o nome do clube na boca do povo.
É no Fighting Ground que a porradaria não tem fim
O Fighting Ground é o modo que organiza todas as maneira consagradas de se jogar Street Fighter em um único lugar. Espere ver no Fighting Ground as seguintes maneiras de jogar: Versus, Practice, Special Match, Arcade e Online. Cada uma dessas maneiras possui uma variedade de possibilidades de jogatina.
Versus é praticamente o clássico One on One; Practice é onde você aprende e coloca em prática o que aprendeu; Special Match é porradaria no meio da loucura, devido diversas alegorias possíveis encaixadas durante as lutas; Arcade é o lugar para você testar cada personagem do jogo acompanhado de uma historinha de fundo; Online dispensa comentários, é o que todos estão acostumados, mas agora mais estável do que nunca.
Mantenha os seus dedos hidratados, tem muito jogo pela frente
A quantidade de conteúdo e possibilidades que Street Fighter 6 possui é absurda, você consegue se perder até mesmos nos menus, de tantas opções disponíveis. O mais interessante da quantidade de coisas no jogo é que quase nada tá ali como substancialidade, até o menor dos conteúdos tem sua existência justificada. Se tem um jogo de luta que você vai precisar dedicar incontáveis horas para fazer tudo que ele tem para oferecer, esse jogo é SF6. Assim que eu comecei a jogar, quando me dei conta, havia jogado 10 horas somente no modo de treinamento.
Talvez por algum “tratado desconhecido” entre desenvolvedores de jogos de luta, a maioria deles não são tão acessíveis, geralmente pecam na hora de passar detalhes importantes sobre cada característica do jogo de maneira coesa e amigável para novos jogadores, ou mesmo os comandos são complexos demais para a maioria. Particularmente, nunca me senti desmotivado a jogar um jogo de luta por conta dos comandos complexos, mas já pela falta de informações dentro do próprio jogo. Street Fighter 6 é um jogo que consegue aos poucos ir te ensinando a jogar, além de contar com uma quantidade de tutorias generosa e bem organizada. O próprio modo Practice talvez nunca tenha sido um aliado assim tão forte dos novos jogadores como sempre foi para os veteranos, a quantidade de excelentes opções disponíveis para você configurar suas sessões de treino é impressionante. Não sei como é a visão dos jogadores mais PRO do jogo, mas a minha é de que não há nada que eu não possa configurar para praticar.
Já joguei outros títulos de Street Fighter, e mesmo os títulos mais amigáveis de jogar, além do exercício cognitivo, também exigia um domínio dos comandos para que habilidades e combos fossem executados corretamente. Nem todo mundo sabe fazer meia lua, e está tudo bem, todavia se antes isso poderia ser um empecilho para algumas pessoas, agora Street Fighter 6 conta com comandos acessíveis para todos os tipos de jogadores.
Hadoken com um botão é possível, basta selecionar o controle de tipo Modern. O tipo Modern é basicamente um facilitador de comandos, combinações de golpes que antes pareciam complexas, passam a ser fáceis. Amantes do controle tradicional não precisam se preocupar, basta selecionar o tipo Classic. Além dos tipos comentados, ainda existe o tipo Dynamic, um tipo de controle para ocasiões casuais, em que os comandos podem ser disparados automaticamente, inclusive.
A porradaria de rua como deve ser
O sistema de batalha de Street Fighter 6 sofreu algumas mudanças, mas a principal delas é a barra de Drive. No início das partidas, sua barra de Drive estará cheia, porém isso não é um incentivo para você utilizá-la sem medo de ser feliz. A barra de Drive tem um papel muito entrelaçado ao estilo de luta de cada jogador, portanto da mesma forma que gastá-la completamente pode te garantir uma vitória, também pode significar a sua derrota, pois em um cenário onde sua barra de Drive foi esgotada, você ficará em desvantagem até que a mesma comece a encher novamente. Conhecer o sistema de Drive como um todo, e saber o melhor momento para tirar vantagem dele é um negócio um tanto complexo, por mais fácil que pareça em um primeiro momento.
Através do sistema de Drive, você pode reagir as lutas de 5 maneiras diferentes, e todas com um propósito particular. Drive Impact é a primeira coisa que você aprende, e ele é capaz de absorver o ataque do seu oponente e jogá-lo para longe de você, muito vantajoso em situações de luta em que você precisa mostrar uma ofensiva fervorosa; Drive Parry, um jeito de você segurar o ataque do adversário e ainda repor a sua barra de Drive; Overdrive é basicamente os golpes especiais EX dos jogos anteriores; Drive Rush é uma corridinha veloz em direção ao oponente, eficaz em investidas agressivas; Drive Reversel, uma das melhores formas de escapar de um combate em que você está encurralado, pois é realizado um contra-ataque enquanto você se defende.
Tirando as nuances do Drive acrescentadas ao jogo, que realmente alteram significativamente o desenrolar das lutas, mesmo com algumas mudanças sutis nos demais aspectos do jogo, a experiência final com o sistema de combate ainda é a mesma de sempre, algo que deixa bem concreto o fato de que Street Fighter é uma série cujas mecânicas de combates são tão bem consolidadas que qualquer alteração, por menor que seja, faz do jogo algo diferenciado. O sistema de Drive realmente altera o jeito de jogar Street Fighter, e faz isso incrivelmente bem, é um sistema tão divertido de brincar que não consigo imaginar um próximo título da série sem ele.
Saindo um pouco dos aspectos mais técnicos, as lutas são quase como dançar deferindo socos e pontapés. Eu não me lembro de me divertir tanto com um jogo de luta como tenho me divertido com Street Fighter 6, cada luta, independente do resultado, é uma dose caprichada de diversão, direto na veia. Existe uma sensação de porradaria diferenciada em SF6, cada ataque que você defere é sentido, do fraco ao forte, se tem algo que um jogo de luta precisa proporcionar para quem joga, é essa sensação de “estar lutando”, e nesse quesito, SF6 dá um show, literalmente.
Esse é o primeiro jogo da série Street Fighter que eu estou adorando jogar online, e nem falo somente pela conexão do jogo, atualmente bem estável, mas pela maneira que eu particularmente gosto de jogar jogo de luta, geralmente sozinho ou dividindo um sofá. Joguei diversas partidas online, e não tive qualquer queda de conexão, só alguns poucos travamento momentâneo em algumas partidas, mas nada comprometedor ou mesmo recorrente.
O elenco de lutadores presentes em Street Fighter 6 é de peso, figuras icônicas retornam com um visual repaginado, como o Ryu e o Ken, assim como os demais… novos personagens dão as caras pela primeira vez na série, tem o enigmático JP, a adorável Lily, a marombeira Marisa, e diversos outros tão legais quanto. Cada um dos 18 personagens disponíveis atualmente no jogo base devem e merecem serem conferidos, são muitos estilos distintos e repletos de características para serem descobertas.
Street Fighter 6 é um marco para a série Street Fighter, o jogo “chegou chegando”. O elenco de lutadores icônicos e novos é cheio de personalidade, que entrelaçados ao novo sistema de combate evoluído, proporcionam lutas memoráveis. São incontáveis horas de porradaria da melhor qualidade. Segure firme o seu controle e lute com todas as forças dos seus dedos, Street Fighter 6 é o que há de melhor no gênero.
A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Capcom, desenvolvedora e distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.