Sea of Stars é uma experiência de puro deleite – Review

Sea of Stars chega como mais um jogo inspirado nos clássicos do gênero de RPG por turnos, mas renova alguns aspectos conhecidos, se concretizando como uma experiência singular.

Tempo de leitura: 6 minutos


Há quem diga que o clássico gênero de RPG por turnos chegou no seu limite, e sinceramente concordo, todavia Sea of Stars demonstrou o contrário, se provando uma experiência um pouco além, apesar de notavelmente influenciada pelos grandes predecessores do gênero.

Os heróis, vulgo filhos do solstício

Aquela travessia marota… – Screenshot: Steam Deck/Joguindie

Sea of Stars é um jogo cujo desenrolar está entrelaçado aos filhos do solstício, predestinados heróis fortalecidos pelo poder da lua (Valere) e do sol (Zale). Em um mundo onde sua paz foi contaminada pelas duvidosas escolhas e principalmente maldades de algumas figuras que serão apresentadas, os filhos do solstício tem como principal missão reverter esse cenário desesperador. A estória do jogo é sobre a típica jornada para livrar o mundo do mal, tem seus toques de originalidade, e é bonita de acompanhar, geralmente acerca de boas ações diante situações ruins, porém não é livre de percalços no seu desenvolvimento.

Através de excelentes diálogos, geralmente entre os personagens, a estória do jogo é contada, então naturalmente você acaba sabendo, por exemplo, que fulano é ruim porque ciclano falou com beltrano sobre as atitudes ruins de fulano, simples e perfeito assim, comumente nos clássicos do gênero que Sea of Stars é inspirado. As minhas maiores ressalvas vão para o desenvolvimento de algumas relações e acontecimentos que foram apresentados como profundos, mas que na prática não se desenvolveram com tamanha profundidade. Hipoteticamente somos grandes amigos, e tô matando e morrendo por você, agora como a nossa relação chegou a esse ponto, pouco se sabe. Quando uma estória do tipo se propõe a ser leve, como é o caso dessa, ao meu ver, tentar escalar questões profundas demais sem uma merecida construção acaba quebrando o aspecto crível devido a presente sensação de artificialidade desencadeada.

O brilho dos combates

Ninguém segura o poder desse bonde! – Screenshot: Steam Deck/Joguindie

Quando os combates dão as graças, Sea of Stars brilha. A fórmula ainda é a mesma que estamos habituados de outros jogos do gênero, mas renovada, propondo inclusive coisas novas como o inusitado flerte com elementos de ação. Você é incentivado a interagir durante boa parte dos momentos em que ocorre um ataque ou defesa, e por mais “simples” que essa interação possa parecer, é uma característica que torna os combates mais reativos e consequentemente divertidos.

Os comportamentos de interação durante os combates são influenciadas pelo timing dos acontecimentos, e a sua reação a eles. Quando você ataca um inimigo com uma habilidade especial como o Lunerangue da Valere, ele é devolvido para você, e aí caso queira dar continuidade ao ataque, basta apertar o botão de ação para arremessar de volta seu Lunerangue no inimigo, o ritmo da coisa vai aumentando, e cada novo acerto soma ao seu poder de ataque final. O mesmo tipo de comportamento vale para a defesa, porém de um jeito um pouco diferente… quando um inimigo te ataca, você pode se defender para mitigar os danos do ataque apertando o botão de ação durante um curto momento de brecha. Essas interações diminuem bastante a sensação repetitiva de transitar entre menus para realizar ações, como ocorre na maioria dos jogos com esse sistema de combate.

Ao entrar em um combate, cada um dos personagens da sua party terão como possibilidades ataques normais, especiais e combos, além das demais como de itens e troca de personagem. Você tem uma liberdade bem interessante no gerenciamento dos personagens durante o combate, podendo trocar de personagem facilmente, inclusive selecionar qual utilizar, desde que ainda não tenha sido utilizado no turno. Embora o sistema de combate permaneça o típico visto nos clássicos do gênero, as mudanças apresentadas trouxeram um frescor aos combates. O funcionamento dos combates é descomplicado, e isso é ótimo, já que a estratégia da coisa está atrelada as características dos personagens.

Como é que luta num breu desses?😁- Screenshot: Steam Deck/Joguindie

Os personagens tem suas vantagens e desvantagens para serem exploradas, e suas características ditam moderadamente o ritmo do combate, mas você também consegue se sair bem nos combates ignorando esses detalhes, focando mais em diminuir e aumentar danos através do timing com o aspecto interativo. Alguns inimigos dispõem de habilidades que precisam ser antecipadas por você para que seus danos sejam diminuídos, ou mesmo evitados completamente. Através de um interessante sistema de barra de cadeados cujas chaves são fraquezas, você pode controlar os danos expressivos das habilidades dos inimigos. Quanto mais você conseguir dar ataques compatíveis com a fraqueza apresentada na barra de cadeados, maiores serão suas vantagens.

Participei de incontáveis combates em Sea of Stars, e sem exceção, adorei todos. Foi muito divertido entender como derrotar os inimigos e simplesmente brincar com as possibilidades. Mesmo a dificuldade do jogo sendo muita das vezes tranquila, você não deixa de ser desafiado pelos combates, inclusive a testar constantemente as possibilidades. Há uma quantidade generosa de habilidades disponíveis aos seus personagens, promovendo diversas maneiras de derrubar os inimigos, porém poucas habilidades são entregues de bandeja, e as demais, você terá de sair a procura.

Um lugar especial

Cada screenshot poderia ser convertida em um quadro de arte- Screenshot: Steam Deck/Joguindie

Logo nos seus primeiros passos pelo mundo de Sea of Stars você é completamente contagiado pela sua impressionante beleza. O que os designers desse jogo conseguiram alcançar visualmente é histórico, mesmo com a minha bagagem relativamente grande com jogo em pixel art, foram poucas as vezes que um jogo desse estilo me impressionou assim, ainda mais indie. Perdi as contas de quantas vezes parei somente para apreciar cada detalhe visual do jogo…

É notável que a maioria das localização no mundo de Sea of Stars foram feitas com muito esmero para você ir até lá. A construção do mundo é repleta de caminhos sugestivos, quando você percebe, simplesmente foi contagiado pelo seu magnetismo. As camadas do mundo onde você pode colocar os pés e/ou as mãos através de caminhadas, subidas, descidas e até escaladas são realizadas de forma natural, quase sem limitações de “paredes invisíveis” devido a arte precisamente conectada com os delimitadores de caminhos. A exploração reserva recompensas bem legais, vale a caminhada nem que seja para apreciar a beleza do mundo.

Um pisar em falso para o precipício – Screenshot: Steam Deck/Joguindie

Uma boa forma de curtir ainda mais o mundo de Sea of Stars é aproveitando os seus lazeres. Você pode simplesmente parar em uma taverna para ficar escutando as boas canções, praticar pesca, cozinhar umas comidinhas, participar de um show de perguntas, ou jogar Wheels, um jogo de tabuleiro divertidíssimo. As atividades extras, além de aprofundar sua jogatina, proporcionam um frescor.

Sobre apreciar

Música para alegrar a aventura! – Screenshot: Steam Deck/Joguindie

A parte sonora do jogo é impecável, qualquer som que você escuta durante a jogatina demonstra qualidade técnica diferenciada. Os detalhes de sons durante os combates evocam perfeitamente a sensação de impacto esperada para cada ação executada, possibilitando que um simples apertar de botão seja sentido através do impacto causado pelo seu som. Agora pulando para a trilha sonora… já adianto que é um trabalho caprichadíssimo. Seu compositor Eric W. Brown conseguiu produzir canções com significância para cada momento de Sea of Stars. A ambientação do jogo jamais seria a mesma sem o poder das suas belas composições.

Joguei a versão de PC de Sea of Stars no Steam Deck, e a experiência teria sido perfeita se não fosse a ausência da resolução 1280×800, a resolução limite (no portátil) de 1280×720 deixa as inconvenientes “faixas pretas” na tela. Na minha opinião, Sea of Stars é o tipo de jogo que fica até mais charmoso em telas pequenas como as de consoles portáteis, e ainda tem o comodismo da portabilidade contribuindo para torna o jogo acessível a qualquer momento e lugar.

Nada como navegar com boas companhias… – Screenshot: Steam Deck/Joguindie

É visível em cada detalhe de Sea of Stars que seus desenvolvedores queriam entregar a melhor experiência possível. Sea of Stars é um deleite divertido à beça, seja você amante ou entusiasta do clássico gênero de RPG por turnos. Quanto mais você joga, mais quer continuar jogando. Sem mais delongas, apenas jogue Sea of Stars, seu próximo xodó dos vídeo games.

A cópia do jogo utilizada para essa review foi generosamente disponibilizada pela assessoria de imprensa da Sabotage Studio, desenvolvedora e distribuidora do jogo, a qual agradeço pela confiança.


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