Já faz algum tempo que diversas empresas têm se posicionado contra a preservação dos jogos, independentemente da plataforma. Frequentemente surgem notícias e declarações polêmicas de empresas nas quais investimos nosso dinheiro em troca dos seus títulos.
Quando menciono a GOG, não tenho qualquer intuito comercial. Para mim, ela é apenas mais uma loja de jogos digitais para PC, porém atua de um jeito um pouco diferente das principais do mercado. Todos os jogos vendidos na GOG atualmente são DRM-free, ou seja, não possuem gerenciamento de direitos digitais.
Os jogos que você compra na GOG são, em essência, seus — claro, dentro do âmbito do licenciamento, não de copyright. É importante lembrar que você não é dono do código nem dos direitos do jogo, portanto não pode revendê-lo comercialmente ou distribuí-lo livremente. O que você realmente está comprando é o direito de usar o jogo por tempo indeterminado. E, nesse caso, “tempo indeterminado” pode ser quase para sempre: desde que você salve os arquivos do jogo em um local de sua preferência, por exemplo, o jogo continuará sendo seu até que se diga o contrário.
Estou longe de ser um entendedor de direitos de propriedade ou coisas parecidas, então não consigo me aprofundar mais sobre o tema como gostaria, mas consigo pelo menos enfatizar a importância e diferença que faz quando entendemos um pouco mais sobre isso.
Ao ler o acordos de usuário da GOG, você notará o seguinte trecho:
2. USANDO OS SERVIÇOS DA GOG E O CONTEÚDO DA GOG
2.1 Nós concedemos a você e a outros usuários da GOG o direito pessoal (conhecido legalmente como uma “licença”) de usar os serviços da GOG e de fazer download, acessar e/ou transmitir (dependendo do conteúdo) e usar o conteúdo da GOG. Essa licença é para seu uso pessoal. Podemos encerrar ou suspender essa licença em algumas situações, que serão explicadas mais adiante.
O trecho traduzido acima já deixa claro que você adquire uma licença do jogo, o que garante o direito de usá-lo sem grandes problemas — desde que respeitada a condição de uso pessoal. Vale lembrar que essa licença pode ser suspensa, mas infelizmente são condições que eles deixarão claro caso a caso.
Agora vem o questionamento: o que faz dessa licença algo proximo de “possuir” o jogo? Bem, a resposta da GOG, apesar de positiva, pode ser desafiadora devido as possíveis implicações futuras. Como foi dito, eles tem o poder de revogar a sua licença, logo não é possível dizer que a licença de um jogo comprado na GOG será sua para sempre, o que acaba de fato sendo negativo, mas por outro lado é bom lembrar que tais práticas pela GOG parecem não serem naturais devido a quantidade baixíssima de relatos relacionados.
Como os jogos são DRM-free, você pode baixar o instalador e guardá-lo indefinidamente, então mesmo que a GOG encerrre algum dia, se você tiver baixado o jogo, ele meio que é seu. Se você comprou algum jogo na GOG que é muito especial para você, recomendo que você guarde os arquivos de instalação dele no seu computador ou em um serviço de armazenamento próprio de sua preferência. Enquanto o poder estiver nas suas mãos, independente das decisões futuras, o jogo é seu, e você tem todo o direito de guardá-lo como bem entender.
Em relação a Steam e a Epic Games Store, principais concorrentes da GOG, ambas adotam práticas que, de certa forma, forçam a dependência dos usuários. Nelas, você também adquire apenas uma licença de uso dos jogos, mas com limitações muito maiores do que na GOG. Normalmente, é necessário estar conectado às plataformas para ter acesso aos títulos, e, em muitos casos, você não consegue acessá-los caso a loja ou os servidores fiquem indisponíveis. Em outras palavras, os jogos que você compra nessas lojas só permanecem jogáveis enquanto o ecossistema delas existir e você estiver em total conformidade com os seus termos.
Há algum tempo venho me desapegando das lojas de mídias digitais e optando simplesmente pela melhor oferta do mercado. Costumo comprar um volume considerável de jogos, então não faz sentido me prender a uma única loja, especialmente quando um jogo está com um preço muito mais atrativo em uma determinada loja do que em outra. A GOG já existe há muitos anos, inclusive com a proposta de DRM-free, mas confesso que só recentemente, após acompanhar tantas notícias negativas sobre decisões de empresas contrárias à preservação de jogos, passei a priorizar a compra dos meus jogos de PC por lá. Essa decisão tem sido desafiadora e libertadora. Desafiadora porque me afasta da minha zona de conforto, a Steam, onde tenho uma biblioteca com mais de mil jogos, e libertadora porque me fez começar a estruturar o meu próprio modelo de preservação pessoal para jogos digitais de PC.
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